O artista plástico Sanagê Cardoso desembarca em Salvador com sua exposição SANAGÊ PELE E OSSO, que ficará exposta no MAB, de 11 de maio a 22 de junho. A mostra conta com a curadoria do historiador e artista visual Carlos Silva, e é um convite ao público a uma imersão estética e sensorial à questão racial e suas consequências na sociedade contemporânea brasileira, resultado de mais de quatro anos de pesquisas de materiais e de texturas.
Sanagê pesquisa a espuma expandida, material muito utilizado na construção civil para assentar portas e batentes. Usado de forma bruta, cria volumes e texturas. “Num primeiro momento, há o encantamento com a matéria e suas possibilidades. Este é um dado fundamental para a construção da sua obra, pois é sobre a espuma expandida que se projeta seu exercício de produção contemporânea em arte”, afirma o curador. Expor na primeira capital brasileira, cidade com a maior população negra fora do continente africano e ainda mais no museu mais antigo da capital baiana, fundado em 1918, é a realização de um sonho para Sanagê. “Acredito que trazer essa mostra para a capital baiana será impactante porque todas as verdades da minha obra passam por Salvador, celeiro da nossa história escrava”, afirma o artista, que faz questão de destacar que a mostra é uma busca, de forma tímida, porém consistente, para despertar alguns desses fatos e momentos, trazendo luz a algumas questões que possam motivar a releitura de aspectos históricos importantes sobre o racismo no nosso país e no mundo, considerando que nada é definitivo. “Esta exposição é uma fagulha nesta proposta e entendimento da questão”, conclui ele.
Para a diretora do Museu de Arte da Bahia, Ana Liberato, “a exposição promove uma imersão na diáspora africana provocando importantes questionamentos acerca da desigualdade social que marca o país desde os tempos coloniais. Nada melhor que utilizar a arte para lançar protestos e provocar reflexões”, afirma a museóloga.
Foi a partir da experimentação à textura e cor de peles, ossos, fissuras e ligamentos, que o artista se aproximou de um tema que lhe é familiar: a diáspora africana e suas consequências. Se por um lado, o material se mostrou muito interessante para pensar estruturas invisíveis de um ponto de vista externo, por outro lado, nunca foi intenção de Sanagê fazer uma apropriação expressionista e explícita da condição básica da diáspora.
Nesse lugar da experimentação, ele alcança a conjunção favorável de um trabalho com pé na pintura e um desdobramento imediato em relevo e escultura. As estruturas de espuma são rasgadas, serradas, quebradas e coladas entre elas e sobre a tela.
Tecnicamente para sua materialização, Sanagê lança mão de uma pesquisa com o propósito de mostrar o uso dos recursos da pintura contextualizada em outro campo de discussão, pintando com a forma e tirando o processo da zona de conforto da simples representação pictórica. Surge assim, uma estética com estrutura alveolar, remetendo às cavernas ósseas.
Telas escultóricas, objeto escultórico e sala de exposição são pintados de branco. Ao optar pela cor que contém e reflete todas as cores, Sanagê conduz o visitante para uma experiência de espaço infinito. “O branco é a presença diáfana que simboliza uma ausência de limites. Porém, além de uma escolha estética, a cor também é política. Assim como as telas que contêm relevos e texturas que não representam os relevos ou acidentes geográficos dos países africanos, a cor também não se refere a uma realidade. É uma provocação para a reflexão sobre passado, presente e futuro”, afirma o artista.
SANAGÊ PELE E OSSO é pintar a massa com a transgressão. Não tem cores em seu passado nem presente, mas acredita que cada um tenha condições de colorir seu futuro com as cores da sua verdade, verdades que serão estabelecidas pela nossa capacidade de ficar fora do obscurantismo.
O MAB é um equipamento administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, vinculado à Secretaria de Cultura.